domingo, 23 de janeiro de 2011

Educação

A nova abolição

No dia 13 de maio de 1888 conseguimos uma conquista suprema: a abolição da escravatura. Hoje as nossas conquistas estão voltadas para um grande crescimento econômico, mesmo tendo um crescimento aquém em comparação ao desenvolvimento mundial. Conseguimos barrar de forma inteligente a crise econômica que abalou os países desenvolvidos. O investimento em infraestrutura, os recordes de emprego e a subida da classe D e E para a classe C e B foram históricos. O que ainda ficamos para trás, de forma vergonhosa e muito subdesenvolvida é o investimento em educação de qualidade, que prende o povo brasileiro ao assistencialismo.

O governo Lula avançou muito na área de infraestrutura da educação: criou 14 novas universidades públicas e mais de 130 expansões universitárias; a Universidade Aberta do Brasil (ensino à distância), cuja qualidade é discutível; construiu mais de 100 campi universitários pelo interior do país; criou e/ou ampliou Escolas Técnicas e Institutos Federais e, através do PROUNI, possibilitou a mais de 700 mil jovens o acesso ao ensino superior. Contudo, a questão do governo Lula foi o investimento em quantidade e não em qualidade. No Pisa 2009 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), aplicado em 65 países, o Brasil ficou em 53º lugar. Na escala de 1 a 800 pontos, nosso país alcançou 401. No quesito leitura, 49% de nossos alunos mereceram nível 1 (1 equivale a conhecimento rudimentar e 6 ao mais complexo). Nível 1 também para 69% de nossos alunos em matemática e para 54% em ciências. Estamos tão atrasados que o Plano Nacional de Educação prevê o Brasil alcançar, no Pisa, 477 pontos em 2021. Em 2009, a Lituânia alcançou 479; a Itália, 486; os EUA, 496; a Polônia, 501; o Japão 529; e a China, campeã, 577. Nos países mais desenvolvidos, 50% do tempo de instrução obrigatório aos alunos de 9 a 11 anos e 40% do tempo para os alunos de 12 a 14 anos é ocupado com ciências, matemática, literatura e redação. E, no ensino fundamental, não se admitem mais de 20 alunos por classe.

Gostaríamos muito de ver a promessa do tempo integral se tornar realidade. Nos países desenvolvidos os alunos passam cerca de 8 horas dentro das escolas, no Brasil são, em média, 4 horas e meia. Empresas estão à espera de pessoas qualificadas para o trabalho, pois, são pouquíssimas as pessoas preparadas para empregos específicos, que exigem uma segunda língua fluente, ensino superior de qualidade e experiência. São vários professores sendo agredidos e desrespeitados todos os dias nas salas de aula, recebendo baixos salários, sem qualificação, sem valor e prestígio, já sendo considerada uma profissão de alto risco. Porém, a educação não se limita apenas a isso. É muito maior. O valor que se dá em educação, o investimento pesado na área leva a valorização do meio ambiente (por parte do cidadão e também das empresas), da cultura (da nossa cultura já tão esquecida), do esporte como um aliado da educação no combate à criminalidade e do valor moral, ético e político.

A educação é o caminho certo para um "pós-bolsa família", libertá-los da dependência do programa. É a continuidade do desenvolvimento social brasileiro, que com educação não precisará mais de depender do governo para a sua sobrevivência. A educação abre as portas da oportunidade, palavra que falta no dicionário do nosso povo. O investimento em educação é a liberdade, a abolição, a mudança natural da mente dos brasileiros para a exigência de uma reforma política, tributária, previdênciária, institucional e agrária que esperamos há tanto tempo. A educação de qualidade é a porta de entrada para recebermos da melhor forma a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Se continuarmos medindo forças e finanças para um profundo desenvolvimento educacional, vamos ver o trem passar, sem conseguir avançar, paralizando este tão suado crescimento econômico. Se o país continuar como está, sem uma agenda para o assunto, o Brasil vai "explodir", como uma bolha em que não possui uma sociedade preparada para a grandeza de ser totalmente desenvolvida, sem mão de obra qualificada - tendo que importar muitas delas - com o mundo avançando, aproveitando os momentos talvez únicos, e o Brasil mais uma vez ficando para trás, sendo um dos primeiros em desigualdade social e violência, e sendo um dos últimos em saúde, desenvolvimento sustentável e educação de qualidade. 

A presidenta Dilma prometeu priorizar a educação. Vamos cobrar isso daqui a quatro anos e sonhar com números bem melhores. Gostaríamos muito de ver 10% do PIB ser investido em educação, mas se a porcentagem crescer para 7%, já é um bom começo pois, apenas 5,2% do nosso PIB são investidos em educação. Torcemos para que a presidenta entre para a história não apenas por ter sido a primeira mulher a comandar o Brasil, mas por ter revolucionado educacionalmente o país. Que ela seja uma estadista, pois, como diz um ditado: políticos pensam na próxima eleição e estadistas pensam na próxima geração.

Um comentário:

  1. Assino embaixo. Além de ser um texto muito bem escrito. Se vc se candidatar, já tem meu voto. rs

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